segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Em gratidão ao mano véio Marcinho Borges

Ainda sobre minha vivência e convivência com o Clube da Esquina, assunto que me deixou matutando a partir da participação no documentário sobre o movimento, em tomadas filmadas no Colégio Estadual, e a partir da despretensiosa pergunta de uma amiga, por aqui. Descobri que eu não sabia o que dizer.
O sentimento que sobreveio nessa matutagem foi o de gratidão, e em especial por uma figura bem central não só no movimento, mas também em minha vida. Em especial na virada radical que eu tentava dar a ela quando entrei no Estadual, e me joguei no mundo, tentando desconhecer as perenes dificuldades de locomoção.
Apesar de pouco mais velho que eu, o Márcio Borges era essa figura, a quem chamo de mano véio, um amigo mais que querido. Com o passar dos anos, e com os rumos das respectivas vidas, a gente foi se encontrando mais e mais raramente, quase um nada. O que não abala o tanto que gosto e curto esse cara falador e de inteligência ágil e brilhante.
Ele vai achar esse papo meio esquisito, mas naqueles anos de maior convivência ele foi, sem pretender, nem posar como, uma referência para a minha redescoberta do mundo, em especial do mundo sensível. Só não digo quase um guru, pra ele não exagerar na máscara.
Em longas e boas conversas, muitas vezes em grupos, em botecos, ele me inoculou a paixão pelo cinema, que inda carrego, me aplicou em fundamentais da literatura mundial, coisa distante de um egresso de educação marista, e curtimos muita música, e essa era uma paixão que eu carregava desde menino, e ainda carrego, sempre fiel aos pilares de nossa magnífica música popular. E aqui penso em Luiz Gonzaga, Caymmi, Ary Barroso, Pixinguinha e tantos outros que frequentam meu cotidiano.
Voltemos. São fascinantes e curiosas essas sínteses que, no matutar, adquirem rumos próprios, incontidos. Como se ficasse claro que minha vivência com o Clube da Esquina tem quase o molde de minha convivência com o Marcinho.
É certo que dali abri o leque, desdobrei em amigos, conheci boa parte da mais fina flor dos instrumentistas de então, vi poetas e músicos em efervescência criativa, aprendi muito e fui feliz.
Marcinho fez de mim um personagem no seu livro Os Sonhos Não Envelhecem”, e agora me convoca para o documentário. Isso me ajuda a compreender minha vida, e joga foco nesse mistério do amor maior que chamam de amizade.

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