sábado, 12 de outubro de 2019

Sem foguetórios, todos comemoram

Ouço o foguetório das 18hs, terceiro e último daqueles destinados a N. S. Aparecida. Antecedido por outros, às 6 e 12hs. E fico imaginando que tal barulheira deve ter tido sentido na roça, nos sertões, talvez lembrando das horas das rezas, ou convocando pras missas, coisas assim.


Só sei que aqui, no abafa e na intimidade involuntária das cidades, tais foguetórios servem mesmo é pra estressar, criar nervosismo e até pânico em seres, homens e bichos, que se abalam com tais estampidos.


Autistas, acamados, a maioria dos cães e gatos domésticos (que não conseguem fugir da cena), pássaros nos ninhos, e nem imagino quantos mais.


Comemorar, homenagear e orar de modos mais silenciosos devem ser ítens obrigatórios em qualquer novo pacto de civilização.

Sacerdócio é coisa de branco?

Houve um tempo, há muitas e muitas décadas, onde fui criança, menino, acho que até vestia azul. Juro que fui criança. Existem até testemunhas ainda vivas, poucas, que podem depor a meu favor.


Entre amigos e inimigos, não são raros os que acham que minha mente ficou por lá. Costumo concordar. Mas o corpo, pobre corpo, esse foi se acabando na faina insana, e interminável em vida, de arrancar folhas do calendário.


Mas, o papo é outro. Fui criança adestrada na religião católica, e cheguei ao honorífico cargo infantil de presidente da cruzada eucarística da paróquia do Carmo, aqui em BH. O passado condena.

E pra esse passado viajou minha cabeça, nesses dias em que na mídia vaza catolicismo. Senhoras de Nazaré e de Aparecida, Santa Dulce, miudinha e fogosa, e até o contestador Sínodo sobre a Amazônia, no Vaticano, ganhou espaço.

Viajei de fasto pra matutar sobre algo meio assustador, mas explicável sem cansaço. Moderninho, escaneei minhas memórias infantis, tanto das práticas religiosas, quanto dos anos de tortura, digo, de educação em colégio católico. Fui e voltei, fui e voltei, e nada de encontrar sacerdotes e derivados pretos.

Eram europeus ou brasileiros filhos escolhidos de famílias abastadas ou, em menor número, egressos da classe média branca.
Hoje, na fartura efêmera de catolicismo na TV, e me refiro aos eventos pátrios, a gente vê padres e diáconos pretos em quantidade. Embora, para eles, a escalada na hierarquia esconda paus de sebo. Poucos escalam com sucesso.

Naquelas lembranças infantis, em especial nos grotões que eu observava fascinado, havia sacristãos pretos, que com frequência também eram mestre de folguedos, ou velhos curas solitários, alguns já com traços mulatos. Coisa da roça.

Os pretos reprimidos, como logo se veria, em suas vocações sacerdotais (um mistura de misticismo com ascensão social), vieram socorrer a Santa Madre na crise vocacional, e abriram, no mesmo gesto, o exercício sacerdotal às classes mais populares.

E, com isso, outro serviço prestado, abriram os olhos católicos, em especial dos comandantes, para uma das chaves da extraordinária explosão das igrejas neopentecostais, e seus convites à ascensão de celebrantes populares. Muitos pretos entre eles.

Agora, o sufoco das vocações femininas, na misoginia católica, mas não só, isso é bem mais que outro capítulo. É outra história. E das tristes.

E como dói!

Hoje é dia de um tantão de coisas. O povo adorando Dona Cidinha, a maioria das crianças sonhando em um dia não serem tão pobres, mas meu velho coração ainda se ocupa com a Katinha, amor da minha vida. São 16 meses de ausência. E dói