sábado, 19 de junho de 2021

 04/06/2018. Katinha, amor da minha vida, completa seus sessenta anos. Mais linda, digna e altiva que nunca. Parece uma deusa. É uma deusa. Minha deusa, que desse seu tempo de vida dedicou quarenta e dois anos buscando fazer do ser miudinho que vos fala um ser humano pleno, realizado, feliz. Feliz como poucos dentre os bilhões que se equilibram sobre a casquinha dessa bolota maluca que gira no nada, rumo ao nada infinito.


No último ano e meio da vida de meu grande amor, tal triste pincelada do destino, um câncer abdominal se intrometeu em seu corpo, em nossas vidas. Tempo de uma luta tenaz, não raro insana, contra os rigores e as malvadezas da doença traiçoeira.


Hoje, com a valentia de sempre, sem queixas, lamentos, sem resquícios de vitimização, Katinha, meu amor, está ferida, frágil, extenuada. Seus olhinhos cansados, suas poucas palavras não ambicionam nada além de repouso e paz.


Com o apoio efetivo do Atendimento Domiciliar em Cuidados Paliativos da Unimed (em especial o doce carinho do Dr. Zé Ricardo e da enfermeira Mônica), construimos aqui em nossa intimidade, ambiente que nosso amor montou entre pequenos gestos de nossos cotidianos, um ninho forrado de afetos familiares onde ela, eterno amor de minha vida, vem podendo encontrar o silêncio e a paz de que tanto precisa.


Presente de aniversário, peço uma reza aos que são de reza, um pensamento positivo a todos, e em especial aos que a conhecem, amam e já partilharam de seus encantos. Coisa simples, singela, apenas desejando que ela tenha paz e repouso.Tenham certeza de que minha Katinha merece todos vossos melhores sentimentos.


Uma pequena consideração mundana. Sendo uma mulher forte e marcadamente visceral (não por acaso o câncer foi lhe disputar as vísceras)), seu adoecimento não é estranho à toda profunda indignação e revolta que ela sentiu com os desdobramentos do Golpe de 2016, com a queda da presidenta Dilma e, ultimamente, se entristecia muito com a perseguição ao presidente Lula, nossa admiração comum. Pra ela, tão íntegra, foi impossível digerir os fatos e as esquisitices obscurantistas de muita gente que ela ama.


Ela sabe que a vida é dura e perigosa. Ela me ensinou isso em milhares de pequenas, e inesquecíveis, lições. Em seu nome vou cravar nossa esperança, nossa briga do momento: #LULALIVRE

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 Postado no Facebook em 12/01/21

Nos áureos tempos de minhas atividades profissionais e conjugais, eu recebia quatro jornais diários e quatro revistas semanais na caixa de correio, ou na grama do jardim para os entregadores mais estressados. Centenas de vezes tive que reclamar pelo telefone para reivindicar novos exemplares. Os originais haviam se empapado em poças d’água, ou sido triturados pela fúria canina.

Katinha, amor da minha vida, fazia exercícios de relaxamento para suportar a casa recheada de papel e de caixas com recortes destinadas a uso futuro. Aliás, futuro que nunca chegava. E sempre fui eclético no espalhamento. Revistas e jornais se distribuíam de modo equânime entre sala, quarto, banheiro e escritório. Haja amor e paciência pra segurar tais barras.

Escrevo com nostalgia, tendo à mão um velho iPad, que abduziu todo aquele papelório, multiplicado não sei quantas vezes. Um tédio, sem cheiro de papel e tinta, sem a luta para segurar as páginas quando o vento batia, sem dificuldades especiais para reencontrar aquilo que eu lera, e não lembrava onde.

O pior é que, mesmo afeito a uma nostalgia aqui, outra acolá, sou um velhote assanhado, afeito a novidades tecnológicas, embora cada vez menos apto a dominá-las, e mais agoniado frente a seus segredos. Mas, não tem jeito. Nasci contaminado pela certeza de que amanhã será hoje, e de cada hoje vai se esvaindo inexoravelmente em ontens.