terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 Postado no Facebook em 12/01/21

Nos áureos tempos de minhas atividades profissionais e conjugais, eu recebia quatro jornais diários e quatro revistas semanais na caixa de correio, ou na grama do jardim para os entregadores mais estressados. Centenas de vezes tive que reclamar pelo telefone para reivindicar novos exemplares. Os originais haviam se empapado em poças d’água, ou sido triturados pela fúria canina.

Katinha, amor da minha vida, fazia exercícios de relaxamento para suportar a casa recheada de papel e de caixas com recortes destinadas a uso futuro. Aliás, futuro que nunca chegava. E sempre fui eclético no espalhamento. Revistas e jornais se distribuíam de modo equânime entre sala, quarto, banheiro e escritório. Haja amor e paciência pra segurar tais barras.

Escrevo com nostalgia, tendo à mão um velho iPad, que abduziu todo aquele papelório, multiplicado não sei quantas vezes. Um tédio, sem cheiro de papel e tinta, sem a luta para segurar as páginas quando o vento batia, sem dificuldades especiais para reencontrar aquilo que eu lera, e não lembrava onde.

O pior é que, mesmo afeito a uma nostalgia aqui, outra acolá, sou um velhote assanhado, afeito a novidades tecnológicas, embora cada vez menos apto a dominá-las, e mais agoniado frente a seus segredos. Mas, não tem jeito. Nasci contaminado pela certeza de que amanhã será hoje, e de cada hoje vai se esvaindo inexoravelmente em ontens.

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