sábado, 26 de dezembro de 2009

Sobrevivemos

- Calma!
- Calma porra nenhuma!
- Já te dei... o que você ganha tent...
- Cala a boca, caralho. Você fala pra cacete. Só não fui com seus cornos, e chega.
- Pô, cara, os homens estão aí... você não vai...
- Fecha essa porra dessa boca. Mete o olho aí no cano do oitão. Ri, caralho...

O estampido rasga o ar em tons polifônicos. Meu rosto se retorce para o lado num vai e vem pausado, meus olhos se fecham instintivamente em súbitas piscadas. Tento firmar a vista, os óculos estão intransponíveis. A pasta vermelha e branca me cobriu o rosto, sangue e miolos. Retiro os óculos, passo a mão na boca, uma, duas vezes. Braços firmes me amparam e me afastam. Diz-se que o gosto e cheiro das mortes violentas são impregnantes, que seus resíduos se colam à memória como a tintura de iodo se entranha numa pedra porosa. Sei que aquele quase menino viverá pra sempre comigo.

- Ei, por favor, alguém aí já sabe o nome dele?

4 comentários:

  1. Paulo...


    desculpe-me o termo chulo...mas pqp! que texto...um tapa na cara dos falsos estetas....um golpe de falta de fôlego nos curiosos...um bálsamo genesíaco como os de Augusto dos Anjos nos nossos miolos e carne...adorei!

    Vc escreve demais...não pare, pf, não pare!!!!


    Beijos.

    Giselle Zamboni (gi)

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  2. Paulo,

    só mais um detalhe fundamental que esqueci de comentar...as fotos que acompanham seus textos fazem jus ao teu poder absoluto de dizer as coisas que devem e como devem ser ditas...parabéns!!!

    bjs

    Gi

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  3. Queria dizer umas coisas, mas a Gisele já fez picadinho delas. E muito bem temperado.

    Uma pergunta: você e o Tuca Zamagna combinaram esse festival de miolos estilhaçando pra fechar o ano fazendo-nos remoer os nossos?

    Nada contra não. Só pra saber se agradeço aos dois em conjunto ou em separado...

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  4. Paulinho,
    "Engraçado", "Legal" e "Interessante" não são rótulos suficientes para qualificar seu texto. Proponho a inserção do "Nusga!", bem mais conveniente e expressivo.

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