quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Luzes na boca do beco

Tom Stone

Para Tutukowski, que deu de encher minha bolinha americana

Aqui se morre um pouco de tudo. Fome. Tristeza. Frio. Doença.

A morte é gesto solitário, chega possessivo, mas aqui entre nós não é costume morrer-se só. Nem é hábito, nesses becos, morte de causa única.

Quando nos olham de lá, onde a vida corre, acreditam ver corpos rotos e mentes maceradas por saudades. Bobagem, a dor quando longa esfacela a saudade. Vida real é a seiva das saudades, e ela já não flui. Nem me lembro se há muito.

Divago entre calafrios. O sol já não me aquece, e do céu vai se apagando o azul que inda agora me acariciava os olhos marejados. O ar me enche os pulmões com uma intensidade desesperada, mas a calma é imensa, mesmo doce. Uma mão que reconheço se intromete em meus cabelos. Deve ser o derradeiro calor que sinto. E ele se mistura ao sopro que meu tímpano capta em estertor: "vai com Deus, meu amor!"

8 comentários:

  1. Antes de entrar no mérito do texto em si, urge afirmar que Tom Stone é um esplêndido fotógrafo. Esta é a foto mais fiel e sensível que alguém já fez do pacóvio do Tuca! Sobretudo pela crueldade - no caso, de muito bom gosto! - em flagrá-lo com o cabeção oco semi-descascado, sem sua bizarra meia-peruca acaju. Sugiro apenas que o crédito da foto seja transferido para o pé da mesma, com o fito de evitar possível associação com a autoria do texto.

    O novo apelido lançado na dedicatória-legenda, Tutukowski, é muito adequado também, embora um tanto ofensivo ao povo polonês e seus "oriundis", em especial ao Charles Bukowski, escritor e poeta americano (assim como sua bolinha) de quem o apedeuta calvo enrustido se diz admirador.

    Por fim, o texto: mais uma das jóias que você, avarento profissional, vinha escondendo debaixo do colchão desde a adolescência. A datagem, creio, é explícita. Como, por exemplo, no trecho "Vida real é a seiva das saudades, e ela já não flui." que remonta àquele período em que você se viu afastado de nossas tertúlias lítero-músico-masturbatórias por força de um entupimento uretral.

    Abração

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  2. Bem,

    Paulo...

    Depois do texto e de ler o comentário aí do seu amigo, Teophanio, paralisada com o golpe que tuas letras me dão, entrando vorazes pelos olhos, boca, narinas e orelhas, buscando almas, permito-me não dizer mais nada, mas pedir o seguinte: escreva-se pra nós, por favor!!!!!

    Abraços fraternais, da que te "aguenta" feliz de satisfação

    Giselle Zamboni

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  3. Giselle, meu conterrâneo familiar (Cordisburgo), Guimarães Rosa, cantou um dia algo assim: "moço -minha mulher que não me ouça!- toda saudade é uma forma de velhice". Pois ando tendo saudade até do que não vivi, talvez principalmente.Essa tal de escrita, pra mim, é meio possessão, passa por mim, como se num susto, e tenho pouco a ver com o que sai (que por vezes leio até meio surpreso). Quando ao primeiro comentarista aí acima, é um amigo carioca "megafrênico" de quem tento fugir há bem umas quatro décadas, com parcos sucessos como se vê. Dependendo do nível de lucidez em que o indigitado se encontra, os personagens vão brotando em seu olhar que se assemelha a parabólicas ensandecidas, perscrutando céus de delírios. Um mero exemplo, conto em voz baixinha, meio em segredo, o malfadado Teophanio foi parido por dona Celina na mesma hora do mesmo dia (distante...) que o Tutukowski que tentei homenagear. E tem que olhar rápido, porque, tal um Saci urbanóide, ele logo some, e reaparece acolá recomposto de cara, voz e manias. Ele mantém um blog por aí, mas não é coisa pra se ver em dia de festas, e, a bem da verdade, nem em outros dias. Obrigado pelo carinho, eu não imaginava que o trilha entre o Twitter e o coração pudesse ser tão curtinha. Beijão.

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  4. Teophanikowski, fiz o que pude para a dar a Tom Stone o que é de Tom Stone. Obrigado, no próximo jogo do Botafogo torcerei para que ele perca de pouco.

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  5. Adorei seu blog, amigo. parabéns, especial. Tb sou do grupo da marina. bjs

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  6. Em primeiro lugar, jovem ingrato, você não tem o direito de me enxovalhar com o enxoval já amarelecido e embolorado que o pacóvio do Tuca e você mandaram confeccionar para um casamento que não passou de um grande blefe que até hoje cobre de rubor as famílias Zamagna e Saturnino, além de toda a galera do Orgulho Gay.

    E quanto ao futebol, me contrange ver o seu empenho em torcer contra o Fogão, sem poder retribuir. Infelizmente, nem sei mais por onde anda e joga o seu América, se que é que ainda joga, se é que ainda anda.

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  7. Paulim, leitores dele,

    Por favor, não levem a sério o lorpa do Teopha. Não é má pessoa, é às vezes (raras) até um bom amigo, mas é um mitômano incurável. Não existe essa história de "enxoval amarelecido e bolorento". Podem estar certos de que dona Regina e dona Celina o mantêm sempre branco e imaculado.

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  8. Olá, Paulinho

    Se a comoção causada pelo texto me leva às lágrimas, os comentários me devolvem o riso.

    Quero sempre encontrar o que ler por aqui.

    Um abraço

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