domingo, 19 de abril de 2009

Bilhete que mando a amigos e parceiros

O pijama e a cueca cortados a tesoura de baixo a cima resumiam a aflição, mesmo que rotineira, da equipe médica naquele trecho entre o Pronto-atendimento do Hospital Lifecenter e o CTI, situado, creio, no 18º andar do mesmo prédio. O mais estranho para mim, embora só recupere um flash ou outro, era estar ali como protagonista e passageiro daquela correria. Fica o tributo: no 14 de março passado, a Katinha, meu amor, e o Cezinha, seu irmão, que é médico e compadre, esticaram meu tempo em cena, seguraram a luz no palco, salvaram minha vida. E nem cogito agradecimentos, só gosto que eles me vejam, mesmo ainda meio combalido, feliz como estou.
Bom mesmo eu já não estava lá vai vasto tempo. Depressão, verme, estresse, carência de energia, de vergonha, estava valendo quase qualquer palpite ou receita, e eu digerindo tudo entre o pessimista e o acomodado. De uns tempos pra cá, alguns desmaios, tonteiras, pesadelos ameaçando invadir as claridades da vigília, sonolência impedindo a rotina, mesmo frouxa, tudo cansativo e frustrante. Naquele final de manhã de sábado, alertados por alguns sintomas, Katinha e seu mano me rebocaram, contrariando minha opinião e aparente desejo, para o serviço de emergência. Os plantonistas mandaram me esquadrinhar em exames e pediram internação, em princípio preventiva. A sorte me abraçou num dos famosos locais e horas exatos, e agora é minha credora. Enquanto aguardava a liberação de um quarto, fui acometido pela crise mais violenta e assustadora, daquelas que deixam mínimos tempos para as providências que seguram a vida e tentam enxotar as sequelas.
Acordei no CTI dois ou três dias depois. Por ali fiquei, sob tratamento e atenção especiais, até o dia 21 de março, quando fui transferido (com a alegria de quem iria a Pasárgada) para o apartamento 806. Anunciada a alta médica, no dia 9 de abril, a comemoração do retorno à casa se viu acompanhada por estranho sentimento de traição, como se eu abandonasse, sem gratidão, os costumes, os afetos, os ritmos que me deram segurança, até sentido, em horas assim difíceis. Sempre fui dessas fraquezas. A ambulância sacolejando nos rumos de casa, máscara de oxigênio, sem ver nada no exterior, naquela tardinha de quinta-feira, véspera de feriado, começou a repor algumas coisas em seus lugares.
Como os males que me nocautearam se ligam especialmente à respiração (baixa saturação de oxigênio, retenção de CO², grave apnéia do sono, e correlatos), minha vida caseira anda organizada entre fisioterapias respiratórias, um concentrador elétrico de oxigênio (que substitui as antigas balas, ou botijões), um Bipap, que, ligado a uma máscara, deve comandar a respiração noturna e o sono. E mais: reforço de chamego, comidinha caseira, doses extras de sossego e paz. E confiar que corpo e mente saberão reconhecer os melhores caminhos rumo à saúde.
Estou feliz, levando a vida pra melhor, e talvez daí esse meio exibicionismo de sair contando felicidade a amigos e parceiros. Novidade mesmo é a cara raspada, pela primeira vez na vida, atendendo imposições de uma máscara respiratória. Fotos do antes e depois da transformação - conforme carinhosamente registradas pelo celular e pelo xodó da Fernanda, acompanhante e técnica em enfermagem - podem ser vistas num blog onde tento retomar meus impulsos internáuticos, gestos abandonados há quase dois anos. 

2 comentários:

  1. Oi, tio!!!!!!! Tá lindo de carinha raspada!!! Parece até que está com a alma mais leve!!!
    Que bom poder ver teu rosto daqui, já que ñ posso estar aí pertinho de vocês.
    Saudades... e um beijo enorme nessa "cara lavada".

    Alice.

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  2. Ô Paulinho, é bom demais te ver assim... retomando as coisas que gosta de fazer! Que legal, até a Alice tá aí. Você tá parecendo um turquinho na foto que tá sem barba>
    Beijão
    Fátima

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