quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Revendo um velho amigo

Auspicioso 2011. Estava eu num domingueiro passeio pelo Diamond Mall quando, de repente, não mais do que de repente, bati o olhar sobre um amigo querido. A gente não se via de há muito, mas foi só chamá-lo, e os olhos de amizade rebrilharam, desconhecedores que são das ausências, mesmo as longas. 


Logo achegou-se a Laise, sua mulher, boa amiga, gente fina. Conheci Clara, sua neta, partilhei a mesa ainda com sua filha e seu genro. Foi um delicioso e comovido pequeno pedaço de tarde. Saí feliz com o reencontro, a cabeça revirando velhas histórias. Foi pouco? Parece. Hoje recebi email de uma amiga comemorando o texto que lera na última página do caderno de cultura do Estado de Minas. 


Ali, o poeta Fernando Brant, o tal querido e velho amigo, homenageava nossa amizade, e comovia esse velho admirador que ora vos fala com palavras de sua apurada lavra, pondo em encantado perigo esse coração que anda passando por provas, nem sempre tão doces. Orgulhoso da vida, reproduzo abaixo o texto da coluna publicada hoje:

REVENDO UM VELHO AMIGO



Estava de bobeira na esquina de um shopping, depois de dar uma olhada nas prateleiras de uma livraria e não me interessar por nada, quando ouço meu nome. Volto e dou de cara com a simpatia absoluta, o jeito de sempre, do Paulinho, movendo-se com naturalidade a bordo de uma cadeira de rodas. Ficamos às vezes um tempão sem nos encontrar com pessoas que valem à pena, que seguiram seu rumo, mas vivem na mesma cidade. Se não me engano, a última vez que abracei essa querida pessoa, foi durante a campanha presidencial de 1989. Lula foi à minha casa para ter uma conversa com o mundo cultural de Belo Horizonte. Houve Lula e eclipse da lua naquela noite.

Paulinho estava em minha lista e apareceu. Havia um porteiro que não queria deixar que ele entrasse. Ele dizia seu nome, Paulo Roberto, e não havia nenhum Paulo Roberto na lista. É que eu colocara ali o carinhoso, e estranho para muitos, apelido que lhe déramos: “Paulinho que acha ridículo andar de carro.” Vou explicar a alcunha. Observador, ele via as pessoas passando por ele, dentro de automóveis, e abstraía a existência do veículo. Assim, era engraçado imaginar os homens e mulheres falando e andando sentadas, passando diante dos pedestres e seguindo viagem. Com os ônibus era mais chocante. Dezenas de passageiros conversando, olhando a rua, se espremendo no espaço exíguo. Sem a carcaça do veículo era um espetáculo risível.

O fato é que ficamos ali, ele e sua mulher, eu e alguns dos meus, rememorando pessoas e fatos passados há muitos anos. Ele conserva o mesmo bom humor que o aproximava de todos. As dificuldades de locomoção que tem, ele as superou sem nunca se lamentar. Ao contrário, sempre fez o que projetou para si. Estudos, universidade, mestre durante anos na UFMG. Dele foi o primeiro carro que conheci (logo ele que achava ridículo etc) adaptado para quem não tinha todos os movimentos.

Encontrá-lo e abraçá-lo neste começo de ano, me deu força e alegria. Êta vida boa, meu Deus. Se o Paulinho existe, e se tantos amigos e amigas existem, se a cultura está aí para embelezar e pacificar a existência de todos, estamos salvos.

Confesso que guardo uma impressão de shoppings como lugar de encontro de outras gerações, não a minha. Tenho mania das esquinas ao ar livre, mas preciso admitir que isso foi caindo de moda, por causa da insegurança, poluição sonora e outros males das metrópoles. Para que tanto carro, tanta violência? Naquele começo de tarde, revendo e abraçando o amigo, eterno no sorriso e no bom caráter, vi que todo lugar é propício ao encontro. Necessário é que haja pessoas que valha a pena encontrar. Nisso eu sou rico.

8 comentários:

  1. Que lindo, Paulinho! O texto foi a sua cara mesmo. Raquel Paim

    ResponderExcluir
  2. E "Amigo é coisa para se guardar
    No lado esquerdo do peito..." Fernando Brant

    Grandes amigos, um beijo pros dois.
    Du

    ResponderExcluir
  3. Amizade é um trem gostoso demais, vai e volta sempre. É um link que o tempo não desfaz e pode acontecer em qualquer lugar mesmo!bjs

    ResponderExcluir
  4. É com grande alegria que o nosso coração bate forte e nos dá uma imensa alegria de saber que somos queridos por pessoas inesquecíveis e especiais,e que fizemos história na vida dos nossos amigos, Beijão Dri.

    ResponderExcluir
  5. Sem a menor cerimônia, compartilho o texto e a amizade com o Fernando...

    ResponderExcluir
  6. Caro Paulinho
    Espero que tudo esteja bem. Desejo a vocês um feliz 2011 com muita saúde e paz. Belissimo texto do Fernando Brant. Amigos muitas vezes são como duas retas paralelas que se encontram no infinito.
    Estou tentando reunir os blogueiros de minas e não consigo. Quem sabe você tem interesse. Considero a internet uma alternativa excelente para comunicar como também para contrapor ao PIG - PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA.
    Meus emails são: duarte.betinho@gmail.com
    albertocarlosdias@yahoo.com.br
    Abraços e felicidades
    BETINHO DUARTE

    ResponderExcluir
  7. Estou há dois dias lendo e relendo essa postagem. A do seu papo com seu amigo médico, então, já li umas dez vezes. E não consegui ainda parir aqui comentário pras duas. Mas a ruminação sobre elas continua...

    Beijão

    ResponderExcluir
  8. fiquei aqui pensando na sua antiga implicância com as pessoas nos carros e ônibus. procede. de fato, se abstrairmos os veículos, todos viram rematados cretinos. na hora do rush, então... aquela multidão motorizada torna-se uma só pessoa, amalgamada pelo ridículo absoluto.
    o garoto do Dodeskaden perde.

    abraço

    ps_ me emocionei tanto com seu encontro com o Fernando Brant (grande ídolo) que não consegui comentar certos pormenores do que ele escreveu. horas atrás, aliás, postei a letra de 'Boca a boca', pra mim uma das cinco maiores obras-primas dele.

    ResponderExcluir