quarta-feira, 16 de setembro de 2009

De coronel e demagogo, todo mundo tem um pouco

O ilustre jornalista Luis Nassif postou ontem, em seu super concorrido blog, um texto a que deu o título de "O 'Coronel' é mais sofisticado que a mídia. Clique aqui se desejar lê-lo.
O Coronel no caso é o senador José Sarney, e a criticada é a midia nacional, em especial os jornalões, que teriam ouvido com má vontade o discurso do senador no plenário, retirando dele detalhes que o caracterizariam como inimigo da imprensa. Hoje, Nassif agregou ao blog a íntegra do denso e longo discurso de Sarney.

Postei o comentário que reproduzo aqui: "Caro Nassif, acho que em nome de uma obsessão com uma tal de mídia golpista (e sem dúvida ela é conservadora e concentrada), você, com o brilho de sempre, acaba conduzindo a discussão rumo a idealizações improdutivas. Só posso analisar a mídia a partir daquela existente, condicionada em termos históricos e ideológicos. E, com a devida vênia (diriam os magistrados), não posso me permitir a leitura das reflexões de Sarney sem considerar algo essencial: a família Sarney é uma grande proprietária de veículos de comunicação, quase monopolista no infeliz Maranhão. Eles estão entre os apaniguados da ditadura, ali onde se consolidou a grave concentração da mídia em poucos, em geral familiares. Sendo sociólogo e professor, talvez por vício profissional tenho dificuldade em absorver a súbita golfada iluminista do presidente do Senado. De todo modo, a discussão é relevante, e você tem o perene mérito de não deixar essas bolas cairem. Receba minha admiração."

Poucos minutos depois, demonstrando, inclusive, a atenção que dedica a seus leitores, Nassif retrucou: "Imagine se fosse exigir currículo de cada análise feita. Até o Ali Kamel pode produzir belas análises. O grande desafio intelectual é avaliar a análise em si."
Algumas horas mais tarde, tendo eu lido, e relido, o discurso, e a resposta que recebi, não me contive e voltei à arena do debate. Disse eu: "Não, caro Nassif, não se trata de currículo. Se encontrasse hoje um texto de Hitler sobre a bondade humana e suas virtudes, eu não poderia lê-lo me atendo à simples análise. Os homens públicos têm história, e respondem por ela. Sarney não tem legitimidade, nem história, para produzir análises isentas sobre o caráter anti-democrático da mídia etc. Pode ser uma ótima análise, mas não posso considerá-la sem levar em conta a vinculação intelectual e moral do eventual autor. Sarney é conservador, proprietário de mídia, tem uma postura política feudal em seus “dois” estados, e, certamente, não é esquizofrênico para conseguir produzir um discurso deslocado de suas posturas e posições pessoais e sociais. Está meio complicado, né, mas o tema é árido. E, por favor, não veja nisso sombras daquilo que um dia meus contemporâneos chamaram de patrulha ideológica. Um abraço."

E nada mais se disse, por enquanto.

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