sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ri melhor quem aqui não ri...

Ontem, cedinho, recebemos em casa a equipe da Rede Minas: a repórter Grazielli, o cinegrafista e um auxiliar. Depois de alguma relutância, eu aceitara dar uma pequena revisitada nas velhas lides. Uma entrevista, bem longa, sobre os sete pecados capitais nos dias de hoje (visão sociológica, opinião pessoal, etc e tal). Expliquei que a tarefa soava um pouco exótica para esse ateu da terceira idade, que se acredita, paradoxalmente, ao mesmo tempo blindado e atolado no instável rol dos grandes pecados. Acabei divertindo-me com a conversa, da qual verei o resultado, sempre imprevisível quando se trata de TV, numa série que será veiculada lá por agosto, ou setembro. Não fiquei isento daquele suor frio na arrancada, e o atribuí ao fato de estar fora de forma e fora de moda, nesse semi ostracismo de agora. Houve tempo em que recorriam aos meus argumentos e imagens com alguma frequência, em parte carinho de ex-alunos. Cheguei mesmo a temer um rótulo de especialista em assuntos gerais.

Mas, tais são outras histórias. Quero falar de coisa diversa. O cinegrafista da equipe, baixinho com tiques de esteta requintado, depois de recompor detalhes dos arranjos de nossa sala, largou o comentário generoso que, mais tarde, ficou arreliando meus pensamentos. Tratava-se do prazer, segundo ele, de ser recebido por personagem assim volumoso, no caso eu, dono de abraço amplo e sorriso largo. Insinuou diferenças com entrevistados amarrados em pose, impondo distâncias. Não rejeitei a lustradinha no ego, inclusive porque a auto-estima não anda tendo moleza em minhas introspecções. É que minha, digamos assim, consciência corporal anda sofrendo bloqueios quando a conversa é obesidade. Amofinado não fico, nem raivoso, a palavra adequada para refletir o que sinto é constrangimento.

Constrangimento estético, impossível escapar, embora seu peso (ops!) seja relativo, secundário. Pior é o constrangimento que, na falta de definição melhor, vou chamar de pessoal. É saber que em hipótese nenhuma posso ser gordo, mas continuo sendo, e nem entro agora nos infindos papos envolvendo dietas e tentativas. Cadeirante, velhote, a respiração sob cuidados, nem tento teses em minha defesa, Meu negócio, caso reste algum juízo, é emagrecer, ou emagrecer.

Como se não bastasse, um constrangimento macro vai e volta em minha cabeça, uma daquelas típicas viroses mentais que atacam sociólogos, como é o meu caso, e assemelhados. É extremamente desconfortável ser membro ativo da nova pandemia que invadiu o planeta, e que se candidata a ser um dos flagelos do século XXI. Gripe suína? Não. A obesidade e suas sequelas destrutivas, mal que deixou de ser "privilégio" das nações do super consumo, e que se espalha até entre populações mais pobres. As hipóteses se acumulam: alimentação industrializada, gorduras trans, sedentarismo, e tudo o mais que o Globo Repórter já nos contou, ou contará um dia, já que pra eles não parece haver assunto melhor. Mas, constrangedor mesmo, embora eu bem saiba que a correlação entre as coisas não é direta, foi ver a ONU anunciando que até o fim desse ano o número de subnutridos no planeta entrará na inimaginável casa do bilhão de seres humanos.

Silêncio. Baixem-se as cortinas, para reflexão. Sem aplausos, por favor...

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