sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um homem e a sua vida

Yehuda Amichai (1924-2000)
Tradução de Shlomit Keren Stein e Nuno Guerreiro


Um homem não tem tempo na sua vida 
para ter tempo para tudo. 
Não tem momentos que cheguem para ter 
momentos para todos os propósitos. Eclesiastes 
está enganado acerca disto. 

Um homem precisa de amar e odiar no mesmo instante, 
de rir e chorar com os mesmos olhos, 
com as mesmas mãos atirar e juntar pedras, 
de fazer amor durante a guerra e guerra durante o amor. 
E de odiar e perdoar e lembrar e esquecer, 
de planear e confundir, de comer e digerir 
que história 
leva anos e anos a fazer. 

Um homem não tem tempo. 
Quando perde procura, quando encontra 
esquece, quando esquece ama, quando ama 
começa a esquecer. 

E a sua alma é erudita, a sua alma 
é profissional. 
Só o seu corpo permanece sempre 
um amador. Tenta e falha, 
fica confuso, não aprende nada, 
embriagado e cego nos seus prazeres 
e nas suas mágoas. 

Morrerá como um figo morre no Outono, 
Enrugado e cheio de si e doce, 
as folhas secando no chão, 
os ramos nus apontando para o lugar 
onde há tempo para tudo. 

4 comentários:

  1. Falando em tempo, Paulinho, faz tempo que eu não o via a encabeçar por tanto tempo o meu blogroll. Duas postagens em dois dias... é de tirar o fôlego!

    Beijão

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  2. Acho bom!

    E aproveite e modere também o seu assédio sobre as minhas seguidoras. Numa tarrafada só você pescou a Nirma, a Fred e a Virgínia Allan - filha temporã de La Wolf com o Poe!

    Mas pra você não dizer que sou egoista (o que é a mais pura verdade!), jogue a tarrafa em Itajubá. Tem lá a Márcia Luz, mineirinha das boas: além de hospitaleira, é bonita e escreve bem que só!

    http://marcialuzmg.blogspot.com

    Bj

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  3. Um homem não tem mesmo muito tempo, e tem menos tempo ainda nestes tempos hodiernos.

    Este blog é mesmo incrível!

    Um abraço.

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