Por isso, sem humildade alguma, ao me reconhecer um mentiroso, eu digo que só posso sê-lo porque você se ofereceu, até se encantou, disposta ou disposto a acreditar em mim. A curiosidade e a dúvida são as matrizes do interessante, de algo ser atraente. Em especial algo imaterial, como o causo ou a história. Fundiu, deu fumacinha? Apaga logo que o tempo é de catástrofe.
Agora, preparo e afio meu dedo indicador, e como não sou proctologista, nem urologista, nem tarado de metrô, eu o enfio na tela, e ele vaza aí do seu lado, na telinha ou no telão, e aponta pro seu nariz, e brado: somos todos mentirosos! Como já andei dizendo, a diferença está no fato de eu me encontrar no grupo dos que sabem disso, que não se culpam por isso, que se divertem com isso, e que usam isso, infelizmente, nem sempre para o bem.
O que regurgitou essa conversa, agora mais floreada, foi o atilado e carinhoso comentário do Afonso Barroso: "É muito bom ler histórias assim, quando bem escritas. Pode ser ficção, realidade, fantasia ou tudo misturado, como você faz tão bem, caro Paulinho Saturnino Figueiredo Segundo". Me senti realizado e compreendido diante dessa erupção de causos e outros que me tomou, não sei porque, depois de tanto tempo literariamente, mas não só, mais lento e prostrado. Saber não sei, mas chego a desconfiar. E não é, de cara, na vitrine, paixão ou mulher. Desconfio do doutor Esquerdo (até nisso faço questão), um de meus médicos, esse recente, que com feitiço e agulhadinhas andou abrindo umas porteiras enferrujadas na vastidão desse sertão, seco e meio descuidado, em que veio se tornando minha mente meio cansada. Algumas cumulus nimbus parecem se juntar nesses meus horizontes.
Ali, logo acima, como se pra separar madeira de brasa, foi que neguei às mulheres e às paixões o reconhecimento por romper obstáculos e desenhar meus destinos. Mentira pura, café com gordura, como repetíamos na minha infância que, por tão distante, me autoriza todas as mentiras.
Ah, as mulheres... e fiquei sozinho às gargalhadas ao encontrar a cena que nunca me saiu da moleira, e que (olha as bruxas aí, minha gente) deliciosamente estava me chamando quando despertei, hoje, de um cochilo à tarde. Sua benção Youtube, eu te adoro!
Vamos à ela. Sequência hilariante da absoluta obra-prima do Federico Fellini, Amarcord.
É quando o maluco tio Teo, num passeio da família, sobe numa alta árvore, e declara guerra à família, e se recusa a descer. Suas condições para ceder são claras e irremovíveis. Aliás, sua condição. E ele a grita, para que o mundo o ouça.
- VOGLIO UNA DONNA... VOGLIO UNA DONNA... VOGLIO UNA DONNA (QUERO UMA MULHER...QUERO UMA MULHER... QUERO UMA MULHER)
E tio Teo na certa estaria lá até hoje, aos berros, não fosse a intervenção pontual e segura da misteriosa freira miudinha, com quem -por quais razões?- ele aceita ir pro hospício. E escrevo aqui, gargalhando como um tio Teo, maluco não sou... ainda não sou... sei lá, acho que ainda não... e o pior que ando namorando umas árvores por aqui por perto, tive até a ideia de pedir aos Bombeiros (depois que eles descansarem de Brumadinho) para me içar com guindaste e me colocar no galho mais alto... e eu nem tinha ideia do porquê dessa piração (se há dias coloquei meus Damares de lado)... mas agora, putz, já não sei... eu não seria tão ridículo... pior é que seria... ai, ai, ai...
Enquanto essa alucinação não se dissolve, peço àqueles que tenham algum contato com a Itália, em especial com Rimini, que sondem por lá se a freirinha ainda está viva, se ela teria vontade de viajar até ao Brasil, à Minas Gerais, ao bairro Santa Amélia, para eventualmente levar uma conversinha rápida daquelas com um... um... conhecido.
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