terça-feira, 26 de julho de 2022


(postado no Facebook em 25/07/22)

Dona Michele estava linda e exuberante quando avançou na passarela do Maracananzinho. Um pitéu, diria eu num relance de fraquejada machista. Bem cuidada, bem penteada, vestida com luxo num longo verde, ela exibia segurança e parecia bem ensaiada, com ritmo e gestos de quem apenas inicia nova caminhada. Seu protagonismo sobreviverá à derrota do marido, e os marqueteiros sabem disso.

A Constituição tremeu ao vê-la abrir a boca, mesmo com a fala mansa. Tal afiado punhal, sua língua avançou sobre a Carta Magna fazendo sangrar nos seus preâmbulos a certeza pétrea do Estado laico. "O presidente foi escolhido por Deus para governar o país", cravou Michele, impiedosa, se expondo como a bela espiã remetida pela divindade para gorar nosso futuro. Dizem que quando Deus resolve ser mau, ninguém o supera.

Michele prosseguiu poderosa, monotemática comop seus admiradores preferem. No palco, mesmo sendo o presidente do partido que lançava o candidato, Valdemar da Costa Neto não era visto em primeiro plano. Desafeto de Michele, que não o tolera, sabe-se lá porquê, ela impôs sua ausência, e venceu.

Fiquei pensando se o pobre Valdemar não ficara nos bastidores, relegado a uma partida de truco com outros rejeitados, tipo Paulo Guedes e o Queiróz velho de guerra, Os filhos 02 e 03 justificaram ausência porque estariam nos States, o Carluxo passeando com a namorada (sic) e o Bananinha conspirando como sempre.

Ah, já ia me esquecendo. Teve também o inominável, em péssima e repetitiva lenga-lenga, as mãos nervosas procurando os bolsos, na certa confuso com os pedidos de moderação que lhe fizeram, o que o tira da zona de conforto da ira e dos xingamentos, o abdomên distendido por um colete, pré-ofuscado pela fala da Michele. Quem sabe meio desapontado com as arquibancadas menos cheias e uníssonas que as expectativas, já que alguns sócios do Centrão haviam sido vaiados. O candidadto não parecia nem feliz, nem confiante.

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